October 29, 2012

A Carta.

Digo olá a ti, que nem já te recordas de mim,
E sei que todas as palavras que te lanço caem
em tão profunda escuridão que não mais te recordas
de que, a final, sou alguém que aqui está.
Tentei pois tocar-te, ouvir-te
rimar-te sem que tentasses sequer aperceber-te
de que real eu era para ter-te.
E, assim, sem que a reciprocidade do vento
te agitasse esses cabelos tão descuidadamente podados
de trigo já passado da apanha senti;
que já não era em casa que a minha mente vagueava.
Ou por outra, em casa a que nunca chamei ‘minha’
sem que fosse, afinal, um verdadeiro abrigo
da chuva que, em épocha agora do findo estio
rega as terras intocadas e ressequidas
do tórrido tormento que sempre me agoira.

E, se talvez terei dito mais do que o meu senso me permitia
não me arrependo. Pois apenas constatei aquilo
que sempre temeste (ou não) que eu dissesse.
Já que antes me haviam dito que teria que ser Eu,
que marcaria o traço na areia. Não sabia, porém,
que o pau, também seco dos vapores intoxicantes
da atmosfera seria, afinal uma haste de roseira que,
ainda em botão deixas-te secar.
Porque nunca a conseguiste ver.

Pensei em pedir-te mas de pedir-te estou já cansado.
Porque te tenho pedido para me veres,
e me tocares, e me dizeres o que me convenci que sentes
porque sempre que te miro o Céu limpo de Cristal
vejo a verdade que, por mais que ajas não me illudes.
Se percebesses o que vejo quando os vejo...

Deixei-me de olhar para os Movimentos
para a Mecânica que, por um passo de genealidade,
rege as formas em líquido de fumo denso
quando finalmente colidem em fricção tal que
o mundo pára para admirar a imponência da luz
e do som que rasgam toda a realidade ao tenebroso.
E os cintilantes espalhados não por acaso na Esfera
Tornando cada único acontecimento, cada multiplicidade
de côr e forma em algo mais maravilhoso que qualquer
outro Fabricado.

Foi o que tentei, com todas as fibras de mim fazer-te vêr
sem que, no entanto, te perdesses, porque me darias a mão.
Mas, a verdade é que deixei já o encanto e voltei a traze-lo
para dentro qual vaso de Epimeteu,
tampa que não tenciono agora abrir
exceptuando para mirar se tal magia ainda permanece
eterna.

A ti, que não te recordas digo sempre Olá;
TonTon.



Maxwell R. Black
Oct 29, 2012
02.42am

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