October 03, 2011

Olá.

Tu não me conheces e eu também não me recordo de te conhecer mas precisava falar contigo. A verdade é que nem sei exactamente o que te quero dizer nem a que propósito mas senti apenas uma súbita vontade de te largar umas palavras sem olhar muito onde caíam. Sabes, tenho vontade de ver-te. Desde aquele dia em que te vi andar solo no metropolitano ficaste-me na mente. Diria até que tenho saudades disso. Anda, vamos passear o meu cão como pretexto e ter daquelas conversas intermináveis ao som da noite. Eu pergunto-te como estás mesmo, como está o teu namorado e tu contas-me tudo: as tuas aulas e como conseguiste passar a membro efectivo do grupo, os problemas com o teu pai protector e pedes-me concelhos sobre como voltar a conquistar um velho amigo. Enquanto isso paramos ali em cima, onde está mais escuro. O vento está forte como sempre mas ali é o sitio perfeito para parecermos dois lunáticos a olhar para o céu como quem perdeu algo. Eu aponto-te onde está a Cassiopeia, a Polaris e Orion e tu perguntas-me qual é aquela estrela quase a tocar o rio, no horizonte, tão brilhante. ‘É Vénus’ digo-te eu, feliz por te ver curiosidade. Vou levar-te a casa mas nenhum de nós quer mesmo ir embora. Mas a tua mãe já chama e amanha tens aulas cedo. Sentamo-nos um pouco na tua escada até me dizeres para te levar à porta. ‘Dorme bem.’
Hoje tem mesmo que ser assim mas amanha dormimos juntos! Prometo-te.
Hoje não se passou muito comigo. Porque eu sou o rapaz a quem nada muda da rotina. Saí a mesma hora, apanhei a mesma carreira. O motorista era diferente mas, naturalmente limitei-me a dizer-lhe um indiferente ‘bom dia’ murmurado enquanto lhe mostrava o passe. Felizmente hoje não estava sol. Esteve antes um tempo tropical: húmido e quente. Embarquei no mesmo comboio e depois no mesmo metropolitano saindo na mesma estação: faculdade. Tudo tão mecanizado ou não seria já rotina. As mesmas aulas de sempre, os mesmos professores e os mesmos colegas. Sempre o assunto da outra, ou conversa da treta como se tivéssemos que ser mais do que colegas de sala. Não vêem que não temos que ser amigos? Salvo raras excepções eu fico feliz de interagir no máximo com um cumprimento! Depois saí das aulas. Fui jantar (uma baguete, sai mais barato). Hoje a minha aula de química foi passada a tentar desenvolver um motor a vapôr! Sim, gente aborrecida... Depois saí, tentei ligar para uns amigos à distância (como todos) para ver se havia alguém com um tempinho disponível para mim apenas. Uns estavam no ginásio, outros a jantar com os maridos e famílias, outros em aulas: ninguém. Peguei em mim e fui até à rotunda nova. Apetecia-me andar. Aquele motor ficou-me na cabeça à falta de melhor quebra-cabeças! Fiz as duas avenidas e parei naquele bar onde estivemos uma vez em que andávamos numa das nossas caminhadas. Confesso que, lá no fundo tinha esperança de estares ali, a minha espera como se soubesses por magia que eu lá estaria também. Sentei-me a comer um gelado (manjericão com lima e franboesa) e comecei a desenhar o maldito motor. Escusado será de dizer que me perdi ali durante hora e meia. Segui para Oriente onde encontrei um amigo. Fomos beber um café por ali. Gosto de andar à beira rio e ver as estrelas. É mesmo o único sitio onde o posso fazer. Segui no último comboio e fiz a minha odeada viagem até casa.
Quando for aí a cima vais mostrar-me tudo! Quero ver a neve cair enquanto formos acampar durante uns dias. Nessa noite dormimos abraçados para podermos sentir o calor um do outro. Quero tocar-te a cara e poder olhar para os teus olhos durante tempo infinito e sentir-te respirar ao meu lado. Ou então levas-me a passear nas ruas obscuras da cidade que só tu conheces para eu poder cheirar a noite contigo e mostrar-te a que cheira. Roubar-te um beijo no topo da ponte mais alta e linda. E, na manha seguinte acordo abraçado a ti a ouvir os aviões rasantes ou contigo a tocares piano para mim e trazeres-me morangos com actimel a cama.
Enfim, num dia banal como todos o que mais te queria dizer era que hoje, como sempre, o que mais senti foi saudade de ti. Vontade de te ter a tempo inteiro, de partilhar contigo. E senti a indiferença do vazio por não te conhecer tanpouco. E é com este pensamento que durmo todos os dias agarrado ao travesseiro e acordo na manhã seguinte e vivo todos os dias a tentar esquece-lo ou encher a mente. Agarrado ao ‘um dia’ mas convencendo-me que esse dia nunca passará de pura invenção minha.
Quero saber de ti. Conta-me! :)

September 29, 2011

S. P.

3 comments:

  1. Estive algum tempo a ponderar se haveria de publicar esta carta. É das coisas mais pessoais que escrevi até hoje e não foi com intuito poético. É um derivado de necessidade. Mostrei-a a apenas uma pessoa que a sentiu bastante confusa...

    Obrigado por continuares a visitar o meu blog. A falta de performance é geralmente um grande motivador para a falta de visitas o que te faz apreciar ainda mais as poucas que tens.

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  2. De confusa nada tem...
    Diria mesmo que a beleza dela é o que a caracteriza...
    Obrigado por a teres publicado...

    Abraço

    http://www.rabiscosincertossaltoemceuaberto.blogspot.com/

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