September 25, 2010

Do que mais sinto falta é do respeito. O respeito não só para com os outros (real ou apenas aparente), quer sejam muçulmanos, pretos, gays ou punks. Não sei porque demorei tanto tempo para escrever sobre Paris e, a verdade é que todos os dias tenho pensado em faze-lo. Mas todos os dias dou por mim a não conseguir escrever e descrever o que foi para mim voar sobre o mundo e aterrar em terras realmente europeias. Acho que ainda hoje não sei bem até que ponto mas, a verdade é que me mudou bastante, apesar de serem apenas uns míseros quatro dias.
Foi a sensação de algo complectamente novo. Andar pelo terminal (ainda que com pais atrás que, alias, foi facto recorrente em toda a viagem), ir preparado para algo novo, como se, por mais curto que fosse o período, aquela fosse a minha casa. E, na verdade acho que o passou a ser.
Ver sítios novos, costumes de gente que sabe o que é civilização à séculos, sentir que aquelas mesmas ruas são as mesmas que se espalham no imaginário de cada habitante do mundo e que figuram por toda a arte. Senti-me, pela primeira vez parte de algo maior, algo global. E senti-me, pela primeira vez, confortável. Confortável para andar na rua. Sem olhares mal intencionados, sem escárnio, sem necessidade de conhecer mais. Senti que estava entre iguais. Senti-me parte de quem andava no Mètro ou de quem ria ao som da fonte St Michel. Senti-me bem a fazer o 5éme Arrendicement sozinho ou de sair as 3 da manha de casa e dar uma passeio à beira da Sena. Senti que, ali era realmente livre e a verdade é que foi a melhor semana em toda a minha vida.
Não sei, enquanto leio o que esccrevo é como se o texto fosse apenas palavras soltas de 3ª mas, aqui dentro é um mar revolto de emoção tão enorme que não consigo processar.
Eu estive dentro dos filmes de Hollywood, das histórias da Disney, dos clássicos da literatura do século XIX, de pinturas dos grandes artistas. No centro da cultura Europeia e da moda mundial. E, de facto, tenho que dizer que toda esta cultura transborda de Paris e de quem lá habita. Muitos de vós podem até discordar, mas, admitam ou não, a cultura está por todo o lado em Paris. A qualquer dia da semana o cinema ao lado do meu hotel estava cheio assim como as esplanadas. Soube bem lavar a vista do cafezinho de esquina, bem aos anos 70 e a fazer publicidade a uma qualquer marca que infelizmente infesta Portugal. Soube bem deixar para trás a selvajaria com que o português trata os seus de igual e a falsa simpatia forçada com que se tratam (bem sei, os franceses são peritos em politicamente correcto mas há algo neles que, uma seriedade e serenidade com que falam que te deixam, por mais falso que seja, confortável). A rapidez com que falam demonstra a rapidez de raciocínio e o aparente escape à inércia tão comum aqui no sul. O senhor, ainda que sozinho à uma da manha não tem medo de responder e te dar indicações úteis e precisas de onde fica aquele local. E, se não soubesse limitar-se-ia simplesmente a dizer ‘desculpe, não sei.’ Em vez de indicar errado.
(Ainda antes de ir testei isto cá e lá. Se perguntares a um português onde fica algo, ele diz-te onde é, tu confirmas ter percebido, ele explica-te mais uma vez (nem sempre da mesma maneira) e, quando agradeces e te afastas, ele continua a falar, as vezes quase a gritar, as vezes até já do outro lado da estrada ou a metros de distância. Não em Paris e, com certeza, não em Londres ou Berlim ou Amesterdão ou Oslo)
Não gosto (e quém me conhece sabe melhor que ninguém) de desgoverno, de falta de integridade, de potencial desperdiçado, de hipocrisia, de calçada portuguesa (calos e feridas nos pés incluídos), de falta de orgulho em ser-se e falta de espinha para luctar pelo que queremos e, acima de tudo pelo que é melhor para toda a comunidade. E, infelizmente, Portugal recolhe muito, se não tudo o que não gosto. Talvez um dia a lesma morta e fétida na cauda da Europa ganhe, de novo, o povo que merece enquanto nação mas, por enquanto, Paris continua a ser a minha asa do coração.
Ainda hei-de escrever o texto que paris realmente merece. Mas não é hoje ainda. Paris não morre.





Dedicado aos que fugiram de cá em busca de algo melhor;
aos que me conhecem e pensaram que eu, alguma vez pudesse ser algo melhor
e aos que duvidaram que eu alguma vez conseguisse ser mais maduro.



Maxwell R. Black
September 25, 2010
02:29am

1 comment:

  1. Também eu admiro muito a cultura francesa; talvez porque nós portugueses fomos sempre muito mais influenciados por ela do que pela cultura anglo-saxónica.

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